Azul anil
Um azul anil nos invadia naquele entardecer outonal de abril.
Era a curva do dia e isso fazia toda a diferença. E quando todo o laranja-lilás da tarde foi engolido pelo azul anil, o quarto ficou iluminado em tiras: raios de luzes que passavam pela persiana. Você me olhou firmemente, como se estivesse reconhecendo em mim a revelação de um enigma. Eu a mulher que sabia te amar. Então, curvei-me, deixei meu corpo cair suavemente. Sabia o que estava por vir. Na minha nuca, plantavas beijos, flores e dores. Não queríamos nos deixar, mas você tinha que partir. As malas já estavam prontas, uma tarefa te aguardava. Não queria chorar, mas o choro queria sair. Os olhos já estavam armados. Em meio a enlevos e beijos, os pingos de lágrimas, não sei se de dor ou de amor, salgavam nossa despedida.